sábado, 12 de fevereiro de 2011

As belezas do dia-a-dia...


Como todo poeta italiano, tenho musas inspiradoras. No meu caso são musos, não tão delicados quanto a Beatriz de Dante ou a Silvia de Petrarca, mas inspiram do mesmo jeito minhas fantasias.  Meu muso de hoje é meu namorado, que ouve pacientemente minhas lamentações sobre o calor, o trânsito, o barulho e o cheiro do meu trajeto de ida e volta da faculdade.
Basicamente funciona assim: meu ônibus parece ser sempre o mais cheio de todos, não existem lugares livres para sentar. E assim eu vou até o fundo (onde percebi que tenho maior probabilidade de sentar pois o corredor é menor e há mais cadeiras), treino a musculatura da minha perna me equilibrando para guardar minha carteira e óculos na mochila, e escolho carinhosamente alguém que pareça bem acordado e atento ao ponto que deverá descer.  Sim, porque logo de manhã metade do ônibus está dormindo de boca aberta na cadeira, o que me leva gloriosamente a pensar que tais pessoas não irão levantar tão cedo.
Pronto, escolhi minha possível cadeira e fico lá em pé atenta a qualquer movimento brusco atrás de mim para não perder oportunidades. A partir desse momento duas coisas podem acontecer: ou ninguém levanta até chegar no ponto em que você tem que descer (que fica praticamente do outro lado da cidade), ou alguém levanta, mas te deixa na pior situação possível; o lugar vago é espremido entre duas senhoras gordinhas na última fileira do ônibus, ou é do lado de algum homem peludo que não toma banho a uma semana e está encharcado de suor.  
Agora eu estou sentada tentando ocupar os dois quartos de cadeira que me restaram (porque os outros dois quartos estão ocupados pela perna do cidadão do lado) e aproveito o gingado do ônibus até meu destino.
O ambiente externo também tem suas belezas. Copacabana por exemplo está cheia de ruas sendo asfaltadas. Descobri pela internet que estão colocando radares em todos os cruzamentos e que duas das quatro pistas da Av. Nossa Senhora vão ser totalmente destinas aos ônibus. (http://acessa.me/a67p) Não vou discutir a logística da coisa até provar na pele o resultado, mas já deixo aqui o meu palpite de que a organização vai durar no máximo dois meses. Depois disso a faixa azul que separa as faixas vai ficar desgastada e os motoristas vão voltar a andar na pista mais longe do ponto possível.
Quando volto pra casa levo de 8 a 12 minutos para atravessar a Avenida das Américas e pegar o ônibus do outro lado das quatro ruas. No ponto luto para trazer um ônibus até a pista da direita onde eu possa subir e passo pela mesma situação de manhã, com uma única diferença: o sol de meio dia.
Posso parecer maluca e contraditória, mas tudo isso faz parte de uma rotina que eu adoro. Eu gosto de tentar adivinhar onde as pessoas estão indo, gosto de imaginar o que fizeram na noite anterior para estarem dormindo tão profundamente naquele ambiente tão desconfortável, gosto de ver as reações do cobrador quando recebe cinco notas de 20 reais seguidas e tem que se virar para dar o troco, gosto de ouvir a troca de receitas de dedicadas donas de casa, e de sentir o vento batendo nos cabelos quando o motorista acelera e passa o Rubinho faltando uma volta para o fim da corrida.
Tudo isso pra mim é belo,  particular. Ninguém gosta de passar calor, e estamos acostumados a reclamar muito de situações como essas. Eu mesma chego em casa resmungando...mas faz parte do pacote. Convido todos a descobrir os detalhes belíssimos do dia-a-dia que nos são ofuscados pela falta de paciência e pela pressa. Para onde estamos indo se não sabemos nem por onde passamos, afinal?

Ah! E se não estiver conseguindo...procure um muso!

4 comentários:

  1. Uma filha assim é tudo que uma mae e um "terrestre" pode desejar nesta vida .....
    Seus textos estao fantasticos .... Uma pequena observaçao, seria valorizar o vocabulario, empregando palavras e concordancias mais ricas .... Estou contente de ver que voce esta vendo poesia no mundo ao seu redor.
    Em tudo .... também nas dificuldades, pois é dentro d'alma que chega a luz e a força que precisamos !!

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  2. Acho que sua estratégia para sentar não está funcionando. Você é uma passageira com necessidades especiais, pode trapacear um pouquinho. Uma dica, nunca guarde duas cadeiras, guarde quatro. Fique no ferro entre dois bancos. Aí você pode escorregar para frente ou para trás. E não tenha medo de ser encoxada. Será rápido e por um bem maior.

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  3. Nossa, lindo sua frase no final...

    Já falei que vc me inspirou de começar meu blog tbm? hahaha

    Ah...as dicas aqui acima sao mtoo boas e ja anotei hahaha

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  4. Haha!! Lembrei das vezes que pego onibus com vc na volta da faculdade, vc bem que falou do sol de meio dia...rs (PS: Concordo com sua mãe, e entendo a sua maneira de escrever utilizando palavras do seu vocabulário, mas acho que pesquisando e empregando novas palavras na sua escrita, vai acabar influenciando na sua maneira oral de se expressar e deixando seus textos mais ricos).

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